QUANDO COMER O BANQUETE ENVENENADO NÃO PARECE TÃO RUIM ASSIM...

12 setembro, 2025

Continuando no tema do banquete envenenado, não tomar o veneno é um ato de auto amor e de auto cuidado. E é claro que a primeira vista você respondeu que não comeria. Mas às vezes estamos tão desequilibrados, que a ideia de sentar na mesa e aceitar o copinho de antidoto no final do banquete envenenado não nos parece de todo mal. Ainda mais depois que já fizemos isso uma vez e as consequências não foram tão devastadoras assim.  Porque no começo, nunca é.

Isso acontece porque a vida é como andar numa corda bamba equilibrando 10 pratos ao mesmo tempo, sem rede de segurança. Quando a gente cai, machuca, traumatiza e pra retomar o equilíbrio você precisa superar o medo de cair de novo. Quando a vida está muito difícil, a gente está frustrada, arrependida, magoada...  e ao  se deparar com um banquete, mesmo que envenenado, a gente só quer sentar e usufruir de todo alívio momentâneo que ele puder oferecer. Estamos em busca de uma garfada de distração, um gole de esquecimento, uma pitada de pausa da realidade. No final nem se trata mais de comida, veneno, saúde e sim sobre um minuto de fuga. E quebrar com esse hábito é como perder nosso lugar de conforto em uma vida que já está desconfortável.

Acabamos presos em comportamentos autodestrutivos, cedendo a momentos de prazeres momentâneos que nos distanciam dos nossos objetivos, que nos adoecem, nos enfraquecem a longo prazo. Imagino que haveria dias em que seria mais fácil ignorar o banquete; em outros, a vontade seria tomar o veneno mesmo e lidar com as consequências do que o antídoto não conseguir neutralizar. Quanto mais quebrados nos sentimos pela vida, mais difícil se torna resistir ao banquete batizado.

Isso nos mostra que o problema não é só sobre a comida, porque se alguém te fala de cara que a comida está envenenada, você nem cogita colocar aquilo na boca. Veneno é algo que vai te machucar, te lesionar, te matar. Não é difícil decidir não tomar. Mas quando ele vem anexado aos momentos mais prazerosos do seu dia a dia, com um antídoto dizendo que, apesar dele te fazer mal não vai te matar, é como se essa autopreservação fraquejasse, e a escolha passa a não ser tão obvia assim. 

Mas acredito que nos deparamos com o pior cenário quando a gente decide parar de tomar o veneno e falha. Daí que a coisa complica. Porque aquele auto controle todo que a gente achava que tinha, a gente percebe que não tem. Depois vem o julgamento alheio. Cadê seu auto amor? Porque você se sabota? Porque você simplesmente não para?  E já adianto que eu não acho que falhar nessas horas é falta de auto amor, apesar de manter certos venenos na nossa vida ser um ato destrutivo.

Isso porque eu enxergo que antes desse gesto de auto amor; de preservação; de dizer “não” para aquilo que nos faz mal, mesmo quando vem com uma pitada de tudo que a gente mais queria depois de um dia difícil; precisa haver um equilíbrio metabólico. Porque existe uma parte invisível desse processo capaz de atrapalhar as nossas decisões, e porque ninguém vê, a conta de fraco e autodestrutivo cai no nosso colo. Mas no nosso corpo temos como pano de fundo acontecendo 24h por dia toda uma produção hormonal, como GLP-1, insulina, grelina, leptina que regula ou desregula nosso apetite. Temos também a comunicação química feita por bactérias, fungos e vírus que se misturam com a quimiotaxia das nossas células confundindo comandos do nosso corpo com os comandos desses hospedeiros oportunistas, que aumentam nossa vontade de comer doce, salgadinho, bolo ou qualquer alimento que eles gostem mais, além de nos dar aversão a legumes, frutas e vegetais, e a gente acaba achando que nosso corpo que está pedindo cede. Pra somar, podemos ter carências de vitaminas, minerais, aminoácidos,  que vão lentificar nosso metabolismo, originar crises de cansaço. A gente pensa que está ficando velho porque não tem a mesma disposição, e as vezes a gente só está desnutrido. Porque mesmo quando a gente faz tudo certo, ainda corre o risco do corpo ter uma produção deficiente de enzimas e não absorver direito os nutrientes. São inúmeros processos que ninguém vê, que te tira do seu equilíbrio, que te deixa sem disposição, faminto, cansado. Então não é apenas sobre força de vontade e auto amor. Se a gente não regula e equilibra esse metabolismo, ele vai jogar contra você e contra o seu objetivo o tempo todo.

Seja o seu veneno o açúcar, o chocolate, o glúten, o álcool, o cigarro ou o sedentarismo.... Antes de pensar em abandonar hábitos ruins, precisamos primeiro reequilibrar esse pano de fundo, se não a gente não sustenta essa decisão. Há estudos mostrando, por exemplo, que a falta de vitaminas do complexo B podem aumentar a compulsão, e que em tratamentos com dependentes químicos, existe uma correção entre a deficiências dessas vitaminas  e recaídas. Corrigir essas deficiências ajudou dependentes químicos a manter abstinência das drogas. Pode ser que você ache que te falta energia pra conseguir se firmar no seu proposito ou você pode nem ter identificado qual é o veneno que está te prejudicando. Mas uma coisa eu te garanto, com equilíbrio, tudo fica mais fácil. E essa é uma das minhas estratégias: ajudar você equilibrar seu metabolismo para facilitar as boas escolhas, as vezes até manipular ele para acelerar se nos convir. Porque de algum lugar a gente precisa quebrar esse ciclo vicioso, e nem sempre a gente consegue segurar uma dieta só na força de vontade. Agora que eu te contei desse pano de fundo que está acontecendo enquanto você vive seu dia a dia, você já consegue ter um vislumbre do porque mudanças de hábitos não são tão simples, e como alterações metabólicas podem fazer com que o banquete envenenado não pareça tão ruim assim.

Se precisar de ajuda para não se sentar mais a essa mesa, eu estou aqui! =)



 

CONTE-ME TUDO, NÃO ESCONDA-ME NADA

12 setembro, 2025

Uma vez, uma professora de dança muito querida me contou uma experiência marcante  da sua trajetória como dançarina que lhe rendeu uma das mais belas lições de vida. Ela havia se candidatado para ser aluna de um professor muito renomado, e  quando ela chegou em seu estúdio, ele logo pediu que ela improvisasse uma dança ao som de uma música da escolha dele.

Na hora ela travou. Disse que não conhecia a música e se recusou a dançar. O professor, então, respondeu bem grosseiramente: “Eu já treinei algumas das bailarinas mais reconhecidas do mercado, você acha mesmo que eu espero que você me impressione? Eu só quero que você me mostre o que você consegue e o que você não consegue fazer.  Se não quiser dançar, pode ir embora.”

Ofendida, mas sem saída, ela dançou, mesmo envergonhada. E depois do seu improviso ele disse algo que fez ele se transformar aos seus olhos, de carrasco para seu professor:

“Que bom que a sua dança foi honesta, sem passos ensaiados. Pois, como eu poderia entender como te ajudar se você mascarasse suas falhas? Pra eu te ajudar é muito mais importante eu conseguir ver o que você não sabe, do que ficar apreciando o que vc já faz. Por isso, não adianta você querer me impressionar como se eu fosse um mero espectador. Um espectador paga pra te assistir porque ele só quer ficar ali apreciando o que vc sabe fazer, ele não precisa fazer nada por você, é você quem faz por ele. Agora quando você paga um professor, o olhar dele precisa ser focado em identificar o que está sendo feito de forma errada, visando aprimorar você. Por isso, se você quiser aproveitar do meu olhar e da minha experiência em seu beneficio, me mostre o que você está fazendo de errado, me conte o que é muito difícil pra você, onde você acha que erra, porque se eu conseguir enxergar onde está o problema, eu poderei te ensinar como corrigir. Se eu só te assistir como um mero expectador, não poderei te ajudar em nada."

Essa história me marcou profundamente. Porque me fez pensar como é difícil a gente deixar de querer impressionar a pessoa que está na nossa frente pra no lugar mostrar todas as nossas falhas. Muitas vezes, quando queremos ajuda, tentamos mostrar apenas o nosso melhor, como se precisássemos provar algo. Mas, na verdade, é quando mostramos as nossas vulnerabilidades que abrimos espaço para corrigirmos o que está atrapalhando nosso progresso.

Por isso, conte-me tudo, não esconda-me nada. Não precisa me contar a melhor versão do seu cardápio, nem tentar me impressionar com brócolis e salada de fruta. Me conta a sua realidade. Aquela barra de chocolate que você precisa comer na TPM, o doce no final da tarde. Tudo isso aos meus olhos podem significar uma alteração metabólica que eu consigo corrigir. Estou aqui para entender como o seu corpo se relaciona com a comida e te ensinar a lidar com as particularidades dele. É seu metabolismo quem vai ditar as regras do que você pode ou não comer, não eu.  Eu sou apenas a interprete do que ele está pedindo pra você e porque ele está pedindo. Mas pra eu te enxergar, você precisa se mostrar pra mim. 



 

O DELICIOSO ELIXIR ENVENENADO: A METÁFORA QUE PODE MUDAR SUA VIDA

12 setembro, 2025

E se, depois de um dia estressante no trabalho, você chegasse em casa com um apetite de leão e se deparasse com um banquete lindo, com suas comidas favoritas? Imagine comigo: A apresentação dos pratos está impecável, a coisa mais linda que você já viu. E o cheiro, então?  Tão apetitoso que faz sua boca salivar. Você se senta à mesa e  é invadido por aquela sensação de aconchego, de finalmente poder esquecer todos os problemas do dia e ter seu momento de prazer e relaxamento.

Então você repara que há um bilhete preso sob um copo cheio de um líquido azul que diz: “Você pode comer de tudo e o quanto quiser, mas aviso: tudo foi temperado com veneno de rato.”

Você se atreveria a comer? Mesmo que fosse a única comida disponível depois de um dia inteiro sem comer nada. Você comeria?

No final do bilhete há outra nota: “Esse copo de líquido azul é um antídoto, você pode tomá-lo depois de se envenenar.”

Agora você comeria?

Como todo antídoto, ele neutraliza parte do veneno para o seu corpo lidar com o resto. É certo que você não vai morrer. Mas isso não significa que tomar o veneno não tenha consequências. Sabendo disso, você comeria?

E se eu  só te contasse que tinha veneno na comida só depois de você se banquetear e de já ter tomado o antidoto. Você ficasse um pouco mal, mas nada grave. No dia seguinte, você comeria de novo e tomaria o antídoto por cima? Comeria, mas com moderação? Não comeria?

E se eu te dissesse que, para o seu metabolismo, o açúcar é o seu veneno, ou poderia ser o café depois do almoço, ou o glúten da farinha de trigo... Você seria capaz de abrir mão da sua dose diária de veneno?

Como sempre digo: não existe alimento bom ou ruim; quem dita as regras é o seu metabolismo. O que para alguns é remédio, para você pode ser veneno. A regra não é clara, nem justa e nem é a mesma para todo mundo. As vezes a gente está se envenenado sem saber. Mas as vezes sabemos, e por alguma razão sentamos na mesa e nos banqueteamos como se não houvessem consequências. Por isso, a questão aqui é: uma vez que você descubra qual é o seu veneno, você é capaz de parar de tomar o elixir das delícias batizado com ele, ou você está apenas em busca de um antídoto?

Que escolha você fará hoje?